Esse ano a cidade nem está tão iluminada como nos anos anteriores. O que será que anda acontecendo? O Papai Noel está na onda do racionamento, ou o 13º já se foi todo nos presentes de amigo secreto, confraternizações e lembrancinhas pros parentes? É... o juro esse ano nos matou, não é mesmo? Além das contas pendentes e o nome no Serasa.
É incrível como a cobrança cresce em Dezembro, aquela dívida que nem lembrava ter feito apareceu em casa essa semana em forma de cartinha. Sem falar no tanto de amigo que eu descobri que tenho, e ainda o bando de primos, tias e outros (engraçado, nas férias de julho eu não vejo ninguém, porque eles só nos visitam em fim de ano?). Meu Deus, fim de ano é fim de carreira, falência, desespero, compras, roupa branca, sandálias novas... e eu que ficava com pena do porco assado com a maça na boca.
Fui incluída em 3 brincadeiras de amigo secreto sem eu nem saber, tá na chuva é pra molhar. Não gosto disso, é muito forçado. Dar presente pra quem eu mal conheço, ficar fazendo pose de sorriso colgate para a foto. E o texto continua o mesmo: “É só uma lembrancinha, mas é de coração, não repara tá?”. Aquelas tias velhas que eu nunca nem tinha visto (salvo à memória fraca) mas enfim, abraçando e beijando, com aquele beijo molhado, e falando como estou crescida, “cadê o namorado minha filha? ... Ele é de família boa, parabéns!”. Ai, todas essas formalidades, falsidades e falso familiarismo.
Mas o que me chamou mais a atenção esse ano foi o fato de que nem ficou muito evidente, toda aquela magia que a mídia, principalmente nas propagandas faziam em torno das questões religiosas. Jesus Cristo – nasce numa manjedoura, filho da virgem Maria. Filho de Deus. Nosso resgatador que demonstrou como será seu reino no futuro. Será que o capitalismo enfim percebeu que esconder o maior faturamento em vendas de presentes não estava mais colando com esse discurso sagrado? Creio que Jesus foi o mais beneficiado no final. Associar Papai Noel – um velhinho gordo e barbudo, neve, hienas e presentes ao nascimento de Jesus, nascido em Belém em pleno Oriente Médio, deserto e filho de um casal de condição humilde. Quanta hipocrisia! Aliás, entendo eu, no meu íntimo, no pensamento, que muitas datas comemorativas se associam de forma plena à hipocrisia.
Mas, Natal é tempo de perdão, paz, união e reencontros. Uma coisa linda! Nas grandes cidades toda iluminadas, ninguém nas ruas, todos estão com suas famílias amigos, comendo uma carninha de porco bem dourada feita pela mesma Tia há décadas, vinho tinto, uva e um clima lindo, de união, harmonia, ninguém exagera na bebida para não dar vexame em um data importante.
Será? Às vezes, naquele interiorzinho é assim. Reúnem-se inclusive os vizinhos e melhores amigos, que se vêem todos os dias, sentam a noite na calçada para trocar experiências de mais um dia de trabalho, luta e esforço. Na cozinha as comadres preparam uma deliciosa refeição, simples, porém feita com amor e alegria, no quintal as crianças correm, brincam e gritam, felizes e despreocupadas. Enquanto os jovens arrumam os presentes em baixo da simples árvore de natal, outros ajudam a preparar a mesa, enquanto programam como serão os passeios dessas férias.
O telefone toca, “Mãe, é o Ricarrdooooo. Ele quer falar com a Senhora”. Ricardo é o filho mais velho e talentoso da família. Há seis anos ele foi para a capital; ano passado não pode estar presente na ceia porque ele ficou na escala do trabalho. Esse ano ele chora ao telefone, lamentando a falta que sente da família e por não estar por perto nesta data. E que mesmo morando no mesmo país, parece estar em outro, em um de pessoas frias e interesseiras. Seus amigos nem atendem o celular, sua namorada pediu um tempo porque iria para o litoral e queria liberdade. A única pessoa que lhe disse feliz natal foi a senhorinha do 302-C e um catador de lixo meio louco que viu na rua quando foi comprar o jornal. Todos estavam ocupados demais para lembrar-se do Rick do interiorrrr. Que fala porrrta, porrrrrteira, que usa camisa dentro da calça e que mora sozinho.
O mesmo Ricardinho que seus amigos e parentes do interior nunca imaginariam que passaria sozinho neste dia. Visto ser tão esperto e inteligente, morando em uma cidade tão grande, com tanta gente e trabalhando como gerente de uma grande empresa. Todos achavam que ele era bajulado e carregado no colo. E de fato era, mais por questões de interesse, não por serem seus amigos, e sim funcionários.
E assim se vive na cidade grande, capital. Solitário, mas não sozinho. Todos te olham, alguns sabem quem você é, outros fingem não saber, outros te abraçam, no entanto não se importam com o que você sente. A vida nos surpreende. Quando esperamos estar bem, socializados, vivendo em uma grande cidade, com muitas expectativas concretizadas, olhamos a volta e observamos o quanto cada um é individualista, superficial, e que toda aquela pompa e vislumbre é mera aparência.
“Porque EU sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...” (Alberto Caeiro)
Agora entendo porque quantos que mostram serem grandes, ricos, fortes, inatingíveis; morrem só, louco e infelizes. A aparência corrói o âmago. Toma-nos a vida tão simples, e deixa apenas a busca utópica de destaque, dinheiro e fama.
E não é somente em uma festa de fim de ano, que transformará o sentimento que sinto pelo meu colega. E sim a convivência, o dia-a-dia, o contato e a afinidade que teremos.
Ho ho ho!
Lara Karolina.
É incrível como a cobrança cresce em Dezembro, aquela dívida que nem lembrava ter feito apareceu em casa essa semana em forma de cartinha. Sem falar no tanto de amigo que eu descobri que tenho, e ainda o bando de primos, tias e outros (engraçado, nas férias de julho eu não vejo ninguém, porque eles só nos visitam em fim de ano?). Meu Deus, fim de ano é fim de carreira, falência, desespero, compras, roupa branca, sandálias novas... e eu que ficava com pena do porco assado com a maça na boca.
Fui incluída em 3 brincadeiras de amigo secreto sem eu nem saber, tá na chuva é pra molhar. Não gosto disso, é muito forçado. Dar presente pra quem eu mal conheço, ficar fazendo pose de sorriso colgate para a foto. E o texto continua o mesmo: “É só uma lembrancinha, mas é de coração, não repara tá?”. Aquelas tias velhas que eu nunca nem tinha visto (salvo à memória fraca) mas enfim, abraçando e beijando, com aquele beijo molhado, e falando como estou crescida, “cadê o namorado minha filha? ... Ele é de família boa, parabéns!”. Ai, todas essas formalidades, falsidades e falso familiarismo.
Mas o que me chamou mais a atenção esse ano foi o fato de que nem ficou muito evidente, toda aquela magia que a mídia, principalmente nas propagandas faziam em torno das questões religiosas. Jesus Cristo – nasce numa manjedoura, filho da virgem Maria. Filho de Deus. Nosso resgatador que demonstrou como será seu reino no futuro. Será que o capitalismo enfim percebeu que esconder o maior faturamento em vendas de presentes não estava mais colando com esse discurso sagrado? Creio que Jesus foi o mais beneficiado no final. Associar Papai Noel – um velhinho gordo e barbudo, neve, hienas e presentes ao nascimento de Jesus, nascido em Belém em pleno Oriente Médio, deserto e filho de um casal de condição humilde. Quanta hipocrisia! Aliás, entendo eu, no meu íntimo, no pensamento, que muitas datas comemorativas se associam de forma plena à hipocrisia.
Mas, Natal é tempo de perdão, paz, união e reencontros. Uma coisa linda! Nas grandes cidades toda iluminadas, ninguém nas ruas, todos estão com suas famílias amigos, comendo uma carninha de porco bem dourada feita pela mesma Tia há décadas, vinho tinto, uva e um clima lindo, de união, harmonia, ninguém exagera na bebida para não dar vexame em um data importante.
Será? Às vezes, naquele interiorzinho é assim. Reúnem-se inclusive os vizinhos e melhores amigos, que se vêem todos os dias, sentam a noite na calçada para trocar experiências de mais um dia de trabalho, luta e esforço. Na cozinha as comadres preparam uma deliciosa refeição, simples, porém feita com amor e alegria, no quintal as crianças correm, brincam e gritam, felizes e despreocupadas. Enquanto os jovens arrumam os presentes em baixo da simples árvore de natal, outros ajudam a preparar a mesa, enquanto programam como serão os passeios dessas férias.
O telefone toca, “Mãe, é o Ricarrdooooo. Ele quer falar com a Senhora”. Ricardo é o filho mais velho e talentoso da família. Há seis anos ele foi para a capital; ano passado não pode estar presente na ceia porque ele ficou na escala do trabalho. Esse ano ele chora ao telefone, lamentando a falta que sente da família e por não estar por perto nesta data. E que mesmo morando no mesmo país, parece estar em outro, em um de pessoas frias e interesseiras. Seus amigos nem atendem o celular, sua namorada pediu um tempo porque iria para o litoral e queria liberdade. A única pessoa que lhe disse feliz natal foi a senhorinha do 302-C e um catador de lixo meio louco que viu na rua quando foi comprar o jornal. Todos estavam ocupados demais para lembrar-se do Rick do interiorrrr. Que fala porrrta, porrrrrteira, que usa camisa dentro da calça e que mora sozinho.
O mesmo Ricardinho que seus amigos e parentes do interior nunca imaginariam que passaria sozinho neste dia. Visto ser tão esperto e inteligente, morando em uma cidade tão grande, com tanta gente e trabalhando como gerente de uma grande empresa. Todos achavam que ele era bajulado e carregado no colo. E de fato era, mais por questões de interesse, não por serem seus amigos, e sim funcionários.
E assim se vive na cidade grande, capital. Solitário, mas não sozinho. Todos te olham, alguns sabem quem você é, outros fingem não saber, outros te abraçam, no entanto não se importam com o que você sente. A vida nos surpreende. Quando esperamos estar bem, socializados, vivendo em uma grande cidade, com muitas expectativas concretizadas, olhamos a volta e observamos o quanto cada um é individualista, superficial, e que toda aquela pompa e vislumbre é mera aparência.
“Porque EU sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...” (Alberto Caeiro)
Agora entendo porque quantos que mostram serem grandes, ricos, fortes, inatingíveis; morrem só, louco e infelizes. A aparência corrói o âmago. Toma-nos a vida tão simples, e deixa apenas a busca utópica de destaque, dinheiro e fama.
E não é somente em uma festa de fim de ano, que transformará o sentimento que sinto pelo meu colega. E sim a convivência, o dia-a-dia, o contato e a afinidade que teremos.
Ho ho ho!
Lara Karolina.
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